terça-feira, 3 de março de 2009

Pra quê complicar?



Passei os últimos dias pensando no que escrever por aqui. O que acabou vindo em mente pode ser um assunto que, aparentemente, parece repetitivo e provavelmente já foi discutido por todos nós. Apesar disso, acabei me sentindo motivado a escrever a respeito dele, devido às implicações que ele tem para o futuro do país.


Nas próximas semanas o Senado votará a favor ou contra o sistema de cotas raciais nas universidades federais brasileiras. O projeto regula a distribuição de vagas nas universidades de forma a incluir negros, pardos, índios e (como se isso fosse raça) pobres. A princípio, uma fatia de 50% das vagas das universidades seriam destinadas para negros, pardos e índios na mesma proporção em que eles aparecem na população de cada estado. Porém, como acharam que estariam sendo injustos, visto que negros, pardos e índios não estudam apenas em escolas públicas, acabaram acoxambrando o projeto, fazendo com que metade dessa fatia (25% do total de vagas oferecidas pelas universidades) deveria ser destinada à pessoas que comprovassem renda per capita familiar de até 1,5 salários mínimos.


O projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados, o que me faz crer que pelo menos 50% dos nossos deputados não têm a menor ideia do que a nossa Constituição, a priori, garante. Seriam estabelecidos direitos distintos para diferentes cores de pele, fazendo com que a deusa Iustitia perdesse a venda que lhe cobre os olhos e, consequentemente, sua imparcialidade.


Além da inconstitucionalidade do projeto, a situação gerada pelo mesmo causaria mais problemas do que soluções. O primeiro problema é óbvio, basta olhar a foto. As cotas acentuariam mais ainda o racismo e a discriminação, seja dentro das universidades, seja fora delas ao procurar algum emprego. Além do mais, sabemos que cientificamente o conceito de raça caiu em descrédito e sabemos muito bem o que o ingresso de pessoas não qualificadas numa universidade causaria. O objetivo do vestibular é o mesmo que o de uma peneira: Os capacitados passam, os incapacitados não. Simples assim. Não vale a pena complicar as coisas. Para preencher as vagas, serão admitidas pessoas menos capacitadas, dando adeus ao mérito pessoal, diminuindo a qualidade do ensino superior e muito provavelmente a produção de conhecimento.


Acho que para qualquer pessoa que tenha um pouco de instrução, a ideia de um investimento pesado e à longo prazo em educação é tão óbvia quanto boa. Mas sabemos que se isso começasse hoje, ainda assim, apenas a próxima ou quiçá a segunda geração após a nossa se beneficiaria com tais mudanças, causando uma certa injustiça com a atual e talvez a próxima. É um preço válido a ser pago pelos muitos anos de falta de cuidado com a educação do país e melhor do que se simplesmente colocassem cotas apenas para pessoas pobres e apenas durante essa próxima geração, enquanto tentassem consertar o cenário educacional atual, principalmente porque todos nós sabemos que o governo não manteria tais cotas apenas por uma ou duas gerações. Por sinal, o cenário atual está muito, mas muito feio. Em dezembro, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo realizou uma prova (noticiada desde maio!) para avaliar a competência de professores temporários da rede pública e acabou que 1500 deles tiraram ZERO na prova. Isso mesmo, não conseguiram responder UMA questão correta sequer, mostrando o quão fundo é o poço, mas essa já é outra discussão...




... Ah, os 1500 professores vão sim, dar aulas em 2009.



2 comentários:

  1. Boa Tognini. Texto muito bom, e esse tema nunca está batido, pois vira e mexe aparecem notícias como essa que você citou da avaliação dos professores temporários da rede pública do estado de São Paulo, no mínimo inaceitável.
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  2. Bom texto, argumentação clara e um tema excelente! Quanto ao investimento a longo prazo: eu estou disposto a sacrificar minha geração e a dos meus filhos também, se isso resolver o problema! Vamos assumir que do jeito que está, logo logo veremos a luz no fim do túnel... e acredite, será um trem daqueles!

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